3.2.11

o cheiro do outro

do bafo, do rastro,
da roupa, da louça,
dos cabelos,
dos pêlos,
do sovaco, dos braços,
do chiclete, dos dentes,
do chulé, do outro.

o cheiro do outro
que não é o outro,
que é qualquer um,
raramente agrada.
a mais leve respiração,
ainda que não se sinta
um nada de brisa,
embrulha a barriga.

a roupa mal sêca,
as mãos que escorrem,
o perfume barato,
a permanente capilar.
no suor permanente,
a ânsia
do vômito
e a de teleportar.

mas o cheiro do outro,
do outro que é meu,
e que quase sou eu,
embrulha o estômago
na ânsia de encontrar.

o cheiro do meu outro
não encontro no ônibus,
na fila,
nesta esquina,
ou naquela,
ou acolá.

está aqui,
no ar das narinas,
nas lembranças,
na saudade,
nas roupas da memória,
no mais simples
pensar.