29.6.11

ânsia

buraco no peito
negro e infinito
tangendo por dentro
o muito que sinto

26.6.11

que se danem as boas notícias

menina danada
deseja com tudo
saltar os segundos

infla o peito e
meio sem jeito
rouba o tempo
de todo o mundo

deixando-no
totalmente desnudo

tirando-lhe
o poder ser defunto

ainda que não possa
ainda que não queira

anseia pelo futuro
como quem espera
o fim de uma viagem errada

espera pela vida
como quem dela sabe
que não se pode
esperar nada

17.6.11

aurora

um agudo
atravessa a
imensidão

pequeno
pesadelo
perdido esse
passado que
perfura o
coração

desperto e
procuro
por toda
parte o
pedaço que
partiu e
padeceu

se me perco
por aí é
porque
prefiro
pensar que
pelo menos quem
partiu
fui eu

13.6.11

dois

lá vem ele
novamente
revirando
carcaças
no avesso

entupindo
delicadas
bolhas
de alma
de ar

esculpindo
obscuros
sentidos e
direções
perigosas

onde
nunca
nada
houve

nem
nunca
nada
haverá

6.6.11

encaixotando

quanto tempo
já se passou
depois de
tudo aquilo?

quanto medo
já passamos
depois de pensar
que iríamos
morrer de medo?

quantas cartas
já foram escritas
depois de escrever
aquela última?

quanto tempo
já se passou
depois de
pensar em
não passar
nem mais
um segundo
de tempo?

quantos mortos
já morreram
depois daquela
que nunca se foi?

e depois de tudo,
depois de tanta coisa,
só ficaram
os rastros
e os ratos
da desistência
frustrada
e da vida
densa
e pesada

e no fim,
só ficaram os ratos.