28.4.11

r: na atmosfera

duas superfícies multicoloridas
encostam-se delicadamente,
à beira do rompimento
e de tornarem-se mundo,
espiam seus desenhos
e inventam cores,
criando formas
e memórias,
no ar
...


[postado no dia 17.03.09]

21.4.11

equinócio XXIII

de hoje
em diante
não mais sentirei
saudades do tempo
que de mim
me retirei

deste instante
em diante
junto tudo que é meu
e o que um dia já foi eu

as mãos em mim marcadas
as roupas mal lavadas
as paredes rabiscadas
e transformo em passado

os rostos,
os gostos,
os outros,
e costuro lado a lado

moldo sobre a pele
sobre as linhas já formadas
cubro todo o corpo usado
e limito o tracejado

no que fui
no que sou
e no pouco que restou
do que ainda não passou

hoje,
em mim,
o corpo encontra,
enfim,
sua forma eterna:

um suspiro,
um fracasso,
um lampejo,
um acaso.

19.4.11

o meu amor

daqui, deitada,
vejo os meus pés,
e escuto ele, ali na sala,
sendo tudo
o que eu sempre quis.

18.4.11

sob a fina superfície

uma bolha
instalou-se
dentro
do meu peito

tentei dar
um jeito
um tempo
um trago
um dois
e não teve
conserto

explodi
feito bolha

9.4.11

pensando em lispector

em algum momento,
num deslize de memória,
esqueci minha alegria
em um lugar qualquer.

perdi a graça,
perdi a vontade,
junto a todas
as minhas resoluções.

eu só não perco o pensamento,
que vai sempre aonde quiser.

escapa aos limites,
escapa à resiliência,
mas nunca,
nunca escapa a mim.

3.4.11

confesso que

da tristeza,
de não mais mergulhar em águas profundas,
tão turvas que impedem o enxergar,
mas que tocam cada pedaço de corpo e de alma,
e tomam por inteiro,
explodem o coração e
definem o ser
como nada

à alegria
de não voar ao mais longínquo inferno,
e sentir a pele em chamas,
as pernas em sangue,
e o pensamento em surto,
simplesmente sendo tudo,

continuo pairando por aí,
vazia e incolor,
como um fantasma do que já foi,
lapsando brisas do que poderia ser,
mas não é
e não mais será.

é uma pena ter de escolher
entre o existir
e o ser.
uma pena.