21.12.09

fluindo sobre o mesmo

me perco no espaço
entre o pedaço que se vai
e outro que volta,
maldito tempo que se arrasta,

e me afogo no amor
que impede o pensamento,
pesa as pernas,
dói o peito
e não me larga,
não me larga.

29.11.09

escamas

olhou e desejou
infinitude óbvia e a brisa
caminhou e sentiu em seus apoios
arrepio congelante
não poderia mais ali não estar

a superfície da pele imitando
uma fotografia ao longe
percebia os contrastes
sobre prazeres e incômodos
já respirava submerso
sem nem ao menos perder o ar

24.11.09

de onde vem o futuro

postada diante da decadência,
paralizada pela parte que lhe cabia
e que não podia ou não queria
cultivar ou cativar,
rendia-se à angústia e só ouvia
o terror sussurar-lhe ao pé do ouvido:
é o fim, é o fim.

10.11.09

prestes a explodir

tentava se encher de nada
pro tudo não escapar

22.10.09

e nesta fragilidade sentimental vou indo

comprimido por comprimido,
lágrima por lágrima,
alegria por alegria,
despedida por despedida,
tristeza por tristeza,
saudade por saudade,
universo por universo,
energia por energia,
dia por dia,
hora por hora,
agora por agora.

20.10.09

corpo fraco e alma medíocre, me deixem em paz.

rendia-se pouco a pouco a tudo aquilo que se alimentava de sua alma,
as mãos machucadas de tanto gastar a força de fora no que quer que estivesse à sua frente,
enquanto o de dentro empurrava violentamente as lágrimas para fora dos olhos
e aquilo pesava tanto em seus pulmões que respirar era sofrível e doído, inspiração e expiração.

tudo completamente invadido por si mesmo, implorava por algo qualquer que não o agora.
contava os segundos alaranjados, e agora já não mais os enxergava.
confundia-se entre tantas sombras, e a busca pela luz parecia inútil e impossível.

18.10.09

entre infinitas distâncias

dessas partes que partem do meu corpo
e se chocam contra mim
do calor sedutor do impacto
destes cílios que se tocam suavemente
pra manter aqui dentro o que flutua
e se esvai por entre mim e o aqui
e como poeira ou um pedaço de pele
que se mistura no mundo
já não é mais meu
e já não me deixa mais

6.10.09

eu estou implodindo.

4.10.09

a lua está se explodindo - e a mim também, mais uma vez.

27.9.09

o tempo entre os braços e o espaço... ah, o espaço....

24.9.09

a quem quer que seja

qual a questão em questão
quando quilos de qualquer querer
querem quedas e caos?
como se o costume e a calma,
e como no chão as cobertas caem,
não mais coubessem como querer.

quando contido,
quer qualquer que seja o outro conter.
como passarinho que quer cair,
cada caco que não aquele cubículo
como quando o coração,
consciente de que continha quem quer que coubesse,
só sabia querer o não saber.

11.9.09

sobre nove goteiras e um filtro de barro (pequena canção clichê para ele)

não sei se te olho
ou me vejo
quando miro para
dentro

se te molho
ou me beijo
quando mergulhamos
no nosso (nosso)
meio

e te sangro
me mordo, não te deixo
suo, sua
te mostro (monstro)
envolvo e me gasto
inteiramente

8.9.09

(des)a(r)mada

quadriláteros atingem a compulsão
e me esvaio entre veias
e grossas trepadeiras

sinto o gélido toque
do muro de aço branco
vincos e o viço de mim

vejo a marcha, um ante o outro
vermelho ou lilás ou listrado
marcando, marchando e esquecendo

3.9.09

graciosa solução para os problemas da vida

um dia de piração interna
e a lua está cheia
tudo fica trezentas
vezes mais intenso

trocar de roupa hoje
será um horror

25.8.09

continuidade e repetição, em pequenos ensaios

o que faria mais sentido do que a perfeição? mas, o que seria mais estático do que o pefeito? não, não podemos ser perfeitos, nossa evolução conjunta é clara. mas esta aproximação da perfeição me deslumbra, me apavora. é a chegada de uma onda alaranjada, confortável, morna e desesperadora, essa onda do fim.
este único segundo eterno do fim que aterroriza. repetindo, esta aproximação é apenas sensação falsa criada pela maldita euforia (infinita). auto-defesa, pânico e falso. é tudo verdadeiro, o defeito e a mentira neste todo é a falsidade da perfeição tão próxima. repetindo, o caminho será eterno. repetindo, eterno.

16.8.09

o tempo na maquete é suave

de costas para o chão
ele a fita
reflete seu brilho
em seus olhos

apaixonados

e aguarda
pacientemente
pelo dia em que a lua
com seu charuto barato
e boca carmim
divida o celeste
e não parta mais
todos os dias

seu coração

(ele não sabe, mas ela só reflete
seus olhos...)

13.8.09

sobre sons, cores e amor

sua voz azul-marinho
insiste em dizer-me
enquanto me entrelaço no calor
aqui estou, aqui estou...
(você não fala, e não páro de te escutar)

7.8.09

daqui de dentro eu não consigo ver aí fora,
eu não consigo mexer meu rosto
e essa água salgada está a me afogar

26.7.09

um pé no vácuo, para esvair essa necessidade do controle sobre esse universo bagunçado.

eu não minto

em uma das maiores contradições
universais
ela caminha,
cobrindo o sombrio com todo o colorido,
e lá se vai, bem ao longe
(mas sempre será possível vê-la
a escuridão)

20.7.09

sadomasoquismo

globos para dentro
das órbitas
translando em torno
de sutis contradições
e devaneios apaixonados
dançam formando
rodas e cantigas
deixando atrás de cada
movimento
delicados rastros com os
seus
pontinhos
iluminados

11.7.09

deitada num tantinho de nuvem
que dá voltas e voltas por aí

9.7.09

irritantemente

o desconforto
o velho desconforto da alma
com aquela cadeira velha
rangendo sob meus labirintos
indo e vindo
indo e vindo
velho
imóvel
só vai e volta
vai e volta

5.7.09

23.6.09

fragmentada

(...) era tudo (e eu sentia que não tinha nada, nem mesmo a mim).
(...)
era como sentir falta do que nunca foi meu - nem deveria ter sido (ou ser). você é seu, e mesmo que queira e tente se dar completamente para o outro, você nunca se abandona. você sempre tem a você (e só tem a você sempre). a dificuldade está em conviver com você e com o você que é seu.

14.6.09

prateado

todos os dias, entre os joelhos
queixo sobre eles
pernas entre os braços
os pontos brilhantes lá
bem lá em cima
lhe perguntam:
seremos nós reais?

e o que fere, mesmo
a espera
será que ela voltará

a lua, sedutora e passageira
de todos todos os dias?

8.6.09

na cama quente um corpo frio repousava
sua alma vagava
onde (o corpo sabia) era impossível chegar.

19.5.09

sábado, loucura e o sol frio (parte II)

deve haver uma forma de elevação coletiva. tem que haver.
a esperança já denota uma certa impossibilidade. se houvesse uma forma - pode ser que haja, pode ser que não - seria mais um passo (estamos em movimento?). há um ponto que, não importa a velocidade na qual estamos chegando, estamos próximos - ou não tanto, mas estamos todos indo para o mesmo lugar - ou não, não importa, estamos indo.
e possibilidades não podem ser usadas como comparativo, referencial. nada pode ser diferente do que é neste segundo. os instantes que virão (virão?) contam com todas (e nenhuma das) possibilidades. o agora (o menor que seja) é imutável.

18.5.09

sábado, loucura e o sol frio (parte I)

decepção, de repente. você percebe que estão em níveis diferentes (será somente neste momento?). o seu parece profundo demais, mas será mesmo? você pensa longe, muito longe. você está completamente desligado do aqui. você será (será?) completamente desligado do aqui, do volume, do cúbico. como seguirá? pensava que estivessem juntos, mas não estão (totalmente). altas expectativas.

no instante seguinte, já está no máximo de expectativa. nada será capaz de provar qualquer coisa, nunca.

27.4.09

e nos últimos tempos

eu revi velhos amigos e explorei antigas dores,
costurei um sorriso na cara e aprendi a falar foda-se (para qualquer coisa),
esqueci de estar sóbria e sozinha,
- desta vez eu paro de fumar -
e venho tentando esquecer o caminho até onde deixei o meu coração.

fórmula perfeita

pé ante pé, sempre, sempre mentindo (para você mesmo, acima de tudo).

24.4.09

my first step

deep, really deep
inside the heart
there was a piece
now is missing

i don't wanna explode anymore
please

9.4.09

nunca houve um segundo

dos segundos que pareciam nunca se acabarem
em que se não estivesse junto a outros segundos
para formarem um infinito juntos
em apenas um único segundo
que ela não tivesse vontade
de não ver nenhum segundo
nem por mais um segundo

5.4.09

[é tanto a ponto de entender que deixar livre é a melhor solução pra vontade de não se soltar]

3.4.09

exatamente agora

um sopro forte
arranca o ar
dos pulmões
e é então
que tudo
tudo
simplesmente pára
de se mover
menos eles
que correm todo o tempo
nunca me deixando
segurá-los
e cada um
cada um
sopra forte
até virar estrela e subir pro céu

[estrelas têm luz, mas matéria, nunca se sabe]

31.3.09

crime passional

impossível de mover-se
a vista para o mundo
só pode-se enxergar
energia

impossível de tocá-los
em vista o coração
não pode se redimir
a distância

tão próxima quanto além
ajoelhava-se
pedindo perdão
pelas partes
tomadas para si

sem poder devolvê-las
ou abracá-las
só podia
ir

30.3.09

notes

o infinito é tão grande quanto você pode imaginar;
o tão grande é tão grande quanto a sua consciência;

possibilidade é o que pode vir a acontecer;
as possibilidades sempre são infinitas;

as possibilidades são tão infinitas quanto a sua consciência;

o ponto exato entre tudo isso é o único lugar do (meu) mundo que não tem nem chão nem céu:
é o nada e o tudo - haven or hell, your (my) choise.

29.3.09

wilco, either way

maybe the sun will shine today
the clouds will blow away
maybe i won´t feel so afraid
i will try to understand
either way
maybe you still love me, maybe you don´t
either you will or you won´t
maybe you just need some time alone

i will try to understand
everything how it´s planned
either way
i´m gonna stay right for you

26.3.09

atordoadaatordoadaatordoadaatordoadaatordoadaatordoadaatordoadaatordoada

eu (não) e s t ou aqui

vai ao céu
banha os olhos
dorme por dentro
no momento instante
seguinte próximo
assombras do trono
as sombras me tomam
(correndo por onde quisesse)
...
não acaba nunca
e agora já se foi
não me solta e não me
deixa
larga os meus pés

eu não quero

ficar sem

24.3.09

:(a)cross 'n (a)round

no encontrar de setas desiguais
(padronização de dimensão
e percepção
algo como um absurdo
inteligente)
dois planos tocam-se
no espaço
ciclo após ciclo
religiosamente

em eterno contato
do instante
impedidos eternamente
de cruzarem ao mesmo

tempo
o eterno

23.3.09

amarelo-claro

criou-se um espaço
e um raio de
não-matéria
bem no fundo
bem dentro
atingiu
no centro, no meio

agora de olhos fechados
tudo continuava
como deveria estar

[sorriso bem no vértice
explodindo
e espalhando]

22.3.09

"e se não tivesse o chorar?"

21.3.09

desespero

uma chama
um pavio
e a sensação
da quase explosão
[não me deixa]

17.3.09

na atmosfera

duas superfícies multicoloridas
encostam-se delicadamente,
à beira do rompimento
e de tornarem-se mundo,
espiam seus desenhos
e inventam cores,
criando formas
e memórias,
no ar
...

16.3.09

sem mim

i
suando ânsia de vômito
sentindo o infinito

ii
dentro
bem no

iii
estômago
sendo gerado
alimentado pela

iv
alma que
não pára
não pára
decrescer
de crescer
não

v
importa

15.3.09

carmim

viscoso e pesado
[o líquido que sai de mim, espremida e no avesso]

14.3.09

retorcidos demais,
não sabem bem o que querem
(concentrar numa forma)

Ana Cristina Cesar

sonhos

sufocada pelo peso da alma
que lhe cobre cada pedaço

parecendo
o tempo todo
a ponto de não caber
dentro de limites
aparentemente ilimitados

chora sozinha e gelada
sem poder mover-se
e mostrar-se presente
[sem poder esconder-se]
a tristeza
tão leve quanto
estar acordada;

13.3.09

caetano

quando vejo, o céu desaba sobre nós
[eu sou você e os meus rivais. sou só]

11.3.09

sangrar

como um pedaço
da própria carne
o qual se banha
de veneno
tirado do próprio coração
sangrento;

8.3.09

eu

num cair de lágrimas
em meio a tantas luzes
tudo que sou
tranformou-se
em todos

e todos
tranformou-se
em música
gentilmente
e repetitivamente

numa roda que
saltava
entre tantos são
em frente ao era

exatamente
meticulosamente posicionado
no centro do
infinito

7.3.09

então fez-se do encontro
saturado de doença e dor
noite fresca e certeza;

5.3.09

corra

as membranas invisíveis
dos pactos implícitos
nas juras e nas vezes
que rolamos pelos colchões
rindo de nós mesmos
andam a me sufocar;

26.2.09

mentira

e agora que guardamos
nossas brincadeiras de criança
as manhãs quentes
e a pequena cama
[além das pequenas velas]
no nada que ficou
na separação do tudo
...
quase como fomos
no mínimo longe disso
nossas festas não são as mesmas
(já nem sei se um dia foram)
ou seja lá o que foram
fomos
e não somos mais
seremos o que agora?
...
sou o que posso
sendo como sou
mas o somos
tanto foi
que o não ser
vem não
sendo
um pedaço que é
e não entende
o que deve ser
a partir do não
somos
mais

o somos foi
e hoje sou
depois do somos
sou o fomos
e (não) sei
o que serei

19.2.09

óbvio

é preciso acreditar que
há uma outra consciência
(à nossa imagem e semelhança)
dividindo o fardo
de precisar
e da precisão
de porquês
e saber que nunca os terá.

[sobre deus e o infinito]

ensaio barato

livrar-se do que ensinaram sobre o amor, livrar-se da posse e do somos um só. entender que nunca seremos alguém a não ser nós mesmos, as máscaras não são falsas, são pedaços de nós em evidência para o mundo exterior, então somos nós. e somos sós no nosso mundo. dentro do nosso mundo só há nós, e tudo que construímos dentro de nós, onde fica o nosso mundo.
e o nosso mundo não está pela metade, ele é inteiro desde o momento do nascimento da nossa consciência. só fazemos expandí-lo, e ele sempre está em expansão, a cada segundo de vida ele cresce de um inteiro para um inteiro maior, sempre tendendo ao infinito.
o amor não é a metade desse mundo, o amor não vai completar o nosso mundo. nosso mundo já é completo pelo amor que ele já é. o amor é como o som colorido que toca nas ruas de nós. não possuímos o amor, somos o amor. e ele não nasce dentro de um cômodo trancado que precisamos abrir, ele está dentro do inteiro. o amor poderia ser o que tentamos explicar por alma, é o amor que nos liga de forma surreal a pessoas, o amor que você sentiu e que as pessoas sentiram por você é o que vai ficar. o ódio é o amor. somos o amor.

14.2.09

ao lado

a cada vez que seu pé falseava
no limite do abismo
ele segurava suas mãos
e os segredos dos céus
se esclareciam
tornando-se tão claros
que ela mal podia enxergar
os céus
o abismo e
seus pés

[entre considerações sobre amizade, amor e companhia na solidão]

5.2.09

a menina que comprou o tempo

fechava os olhos
para desviar o olhar
dos olhos do mundo
que a fitavam
o tempo (do mundo) todo

de olhos fechados
olhava o seu mundo
sem saber se um dia
o dono do mundo
proibiu o mundo
de viver
cada um no seu mundo

2.2.09

amor livre

(em companhia de camila)

e como se
seja lá o que acontecesse
não iria dar errado
sentia cada espaço vazio
dentro do corpo
entupido
de brisa
e
sol
[momento de questionamento sobre o amor, o tempo, concreto e abstrato]

31.1.09

desabafo

tem certos dias que as palavras coçam as minhas mãos e as fazem sangrar, e os pensamentos e sentimentos passam tão infinitamente rápido
como de costume
mas não como de costume
eu consigo me agarrar a alguns deles e olhá-los de frente sem entendê-los
mas eles passam pelos meus olhos
e surgem nas minhas mãos
e vazam por entre os dedos
não cabendo
aqui dentro

e a angústia de um dia explodir
de um dia nada disso mais caber
de um dia tudo ter acumulado
e eu
voar
pelos ares
me desespera
e eles começam a vazar mais ainda pelas mãos
e também pelos olhos
e pelo ar que sai num suspiro mais forte do que os pensamentos
e o ar me falta e o chão se vai e o sol se põe e tudo continua sendo tudo

menos eu, que nunca fui nem nunca serei
nem eu nem tudo
e quem sabe nem nada
e eu não sei o que fazer quando acho que vou enfim explodir
eu abafo a explosão com a angústia e espero
o dia em que eu não couber aqui dentro e tiver que explodir
ou implodir


[sobre sobre um surto sincero ausente de público e dotado de sinceridade e melancolia]

a coisa mais bonita do mundo hoje



[texto e vídeo encontrados no blog hoje vou assim]
tem coisas que dispensam a poesia.

o pensador

[aos teoremas de minha vida]
uma vida escalando
degraus
degraus
degraus
degraus
degraus
e quando sentiu
que o ápice
se
apro
xi
ma
va
desabou num piscar de olhos

29.1.09

ofegando

o que entra e sai pelos poros
aumenta
a alma
até ela não caber
dentro do corpo
e o corpo
querendo
outro corpo
a ponto de explodir
faltando
e
sobrando
ar
só encontrando
a medida
certa
quando os corpos
já não cabendo dentro de si
se misturam formando
um único e enorme corpo
onde as almas inchadas
caibam
e
se acalmem

até que as almas procurem seus
próprios
corpos
e encontrem
um pouco do outro
corpo
dentro do seu
no lugar do vazio
que toda alma tem
e então
elas dormem
lado
a
lado

28.1.09

ato falho

os poetas escrevem
e explicam aquilo
que quando surge
não se pode entender;

[da indignação sobre o que poderia ser e o que é amar]

26.1.09

flash

e então comprou com tempo
um relógio que era
do tamanho que ela queria que fosse
e viveu como tinha que ser vivido
pelo tempo que lhe restou

22.1.09

explorando o jornalismo decadente

minha veia jornalista resolveu dar as caras e desta vez eu espero que ela dure, pelo menos, para sempre.

http://decadenciajornalistica.blogspot.com/
http://decadenciajornalistica.blogspot.com/
http://decadenciajornalistica.blogspot.com/

21.1.09

sintonia

como um fio que liga
os pensamentos
aos corações
fazendo de tudo uma coisa só

ligados pela fragilidade
de um fio

20.1.09

vodka:

do céu ao inferno em uma noite [pessimamente dormida].

19.1.09

trabalho de parto

um sol quente com muitas nuvens cinzas, além da brisa suave que jamais aparecia. aquela brisa estava alí, batendo no rosto, e em contato com a pele produzia uma estranha sensação de cócegas. o pensamento parecia um filme colocado na mais alta velocidade, o que a impedia de agarrar a qualquer um dos frames. às vezes parava para refletir sobre esta tal incapacidade de se prender a um pensamento apenas. e também sobre a incapacidade de exteriorizar qualquer imagem ou som visto na tela da cabeça. mas nada disso a incomodava.
no rosto era possível ver aquela leve contração do canto da boca, aquele sorriso que mostra apenas a calma de dentro do coração. os olhos piscavam absurdamente lentos, e cada arfada do peito demorava minutos para se completar. as nuvens cinzas começaram a se dissipar em forma de gotas que pingavam sobre os ombros descobertos, escorriam pelos braços e costas, e a cada momento de contato entre água e pele, a sensação de cócegas do rosto com a brisa era potencializada, e parecia que podia sentir a absorção de parte dos pingos pelos poros.
ela sabia que seu humor estava prestes a chegar no cume, de onde ele sempre se lança abismo abaixo. mas nada disso a incomodava. cada segundo dessa tranquilidade parecia ser colocado cuidadosamente no vazio que está dentro do saquinho da angústia que nasceu com ela, dentro dela. a claridade do dia parecia entrar pelas narinas enchendo os pulmões de belos sons e vozes [indescritíveis como tudo que estava dentro], que se espalhavam por cada vaso do corpo, um dia fragilizado, e naquele momento forte, carregado somento pelo coração.
o único sentimento ruim era a compaixão que sentia pelas outras pessoas, tão cheias de inquietações e medos, sempre tão presentes nela, e tão distantes neste momento. ela queria gritar a todos que não é preciso procurar, está tudo lá, dentro de cada um, ao lado, em cima, em volta. só é preciso enxergar de olhos fechados, só é preciso estar com você mesmo em todos os momentos. queria explicar que é tudo muito maior do que isto apenas, e que nada virá. o tudo já está aqui, nós somos o tudo, o que veio e o que há por vir, mas o mais importante, nós somos o que está agora, e não entendia porque procurar outra coisa tendo tudo nas mãos.
mas não disse nada. continuou andando, sentindo cada pingo de chuva, cada sopro do vento, olhando tudo por trás dos óculos escuros cheios de gotas e sorrindo, esperando que algum qualquer dividisse isso que não cabia dentro dela.

18.1.09

amor de para sempre

um amigo poeta me mostrou um poeta
que dizia alguma coisa como
o que está na idéia
é mais seguro que o real
e eu concordei piamente
nisto até hoje

quando vi
que o pensamento
por um momento
[que às vezes se estende
por uma eternidade]
realmente é
muito mais seguro

mas o real
[que às vezes se estende
por uma respiração]
pode
em um suspiro
menor que uma respiração
ser completamente
inseguro
e
insano
e
imortal

[amor inclui amor e amor]

17.1.09

eterno

num impulso
e numa lágrima
num repente
nunca mais se torna
para sempre

12.1.09

estou grávida

estou gerando um novo ser
aqui dentro
já posso sentí-lo

sinto muita ânsia
chego a vomitar às vezes
tenho vontades estranhas
e algo está crescendo

há tempos ele está aqui
mas nunca havia se manifestado
e agora resolveu chutar
de dentro
para fora
tentando sair logo de mim

minha família não entende
como uma menininha tão ajeitada
engravidou tão cedo

eu não tenho nome ainda
mas conheço pessoas que tiveram bebês bem parecidos
algumas o chamaram de angústia
outras de inquietação
outras de hiperalma

algumas esperaram ele falar
e quando ele falou
o chamaram de filosofia
ideologia
pensamento perdido

eu não tenho nome ainda
mas as pessoas ao meu redor resolveram chamá-lo
de loucura

sobrenome depressão.

subentendimento

- você precisa se encaixar no mundo, precisa aprender a viver não em sociedade, mas NESTA sociedade que vivemos. não precisa de tanta sinceridade assim, não precisa dizer sempre a verdade, toda a verdade, para todo mundo. e a sua sinceridade não é nas coisas que você fala, mas principalmente nas coisas que você sente. não precisa deixar sempre claro o quanto você sente, aprenda a esconder o que está dentro de você.
- então eu preciso aprender a mentir?
- não, você precisa se colocar no lugar das pessoas e pensar no que, se você fosse elas, você gostaria de escutar.
[surto]
- eu gostaria de escutar o que elas sentem, gostaria que elas não me escondessem o que elas sentem.
- mas elas não são você.
- e eu não sou ninguém agora...

[algumas conversas rasgam o peito e mostram que não adianta o quanto você se esforce, o que está dentro de você está só e  definitivamente dentro de você. e o máximo a ser feito é continuar procurando algum sentido para continuar o esforço para a tentativa de se encaixar entre tudo que é o oposto do que você acredita, e escutando que é necessário sonhar e ir atrás do que se acredita - dentro daquilo que já é pré-determinado que se deve acreditar]

aceptação

eu que sempre tentei andar em linha reta e nunca consegui,
procurei padrões para seguir e não achei,
garimpei formas e formatos que só me desencaixavam,
passei cola e tentei grudar um rótulo
numa pela suada de esforço
passei óleo e tentei escorregar para dentro
de alguém, de todos, de ninguém
e acabei dentro de mim mesma;
.
olhando mais de perto,
mais de dentro,
mais adentro
achei meus padrões,
percebi que sou uma curva cheia de encruzilhadas,
minha alma se encaixa no meu corpo
e o incômodo é que não me pertence;
aqui dentro está escuro,
mas quando olho para fora,
a escuridão é muito maior.

8.1.09

memória:

aquilo que [por sorte ou destino] continua como sempre foi;

6.1.09

gramática

nós que antes era pronome único já não é mais pronome. cheguei a pensar que os pronomes tinham desaparecido e ele ou tu não significassem mais nada. as frases já não tinham sentido, já que o nós não existia e os outros não tinham sentido. achei a nossa língua completamente ineficaz. e sem professores tive que reaprender o sentido do pronome eu. e foi muito pior do que quando pequena, foi muito difícil. além de ineficaz, nossa língua era complexa demais. aprender o nós foi rápido e fácil. difícil é desaprender. e depois de ver sentido nos outros pronomes, eu já não sei mais onde usar o nós. ele continua no pequeno quarto, dormindo. talvez volte a fazer sentido, talvez eu tenha que reinterpretá-lo. talvez o tempo me ajude a usá-lo novamente.
enquanto isso o eu ocupa quase todo meu vocabulário... além do pretérito-completamente-imperfeito.

5.1.09

tarja preta

mãos no bolso
no cabelo
no cigarro
no isqueiro
no cabelo novamente

coça a nuca
o pescoço
a palma da mão
as coxas
o rosto

mais um cigarro
a outra no bolso
troca as mãos
coloca na bolsa
e toma um calmante

4.1.09

cota de teletransporte

com direito a um por dia - de ida e volta, claro -, mas somente com o adicional uma refeição completa por dia, e que ninguém saiba do novo poder;

gênio?

2.1.09

primeira parte

ninguém contou os últimos dez segundos, os fogos foram espaçados e fracos, absolutamente silenciosos. o celular, como em todo ano, não funcionava. quase não deu tempo de chegar na orla. ninguém mais leva a sério a tradição das cores.
um frisante gostoso, sem taças, sem nada. duas pessoas que em nenhum momento de todo o ano imaginei que estariam comigo nos últimos momentos. e não poderiam ser outras, tinha que ser elas.
e o mais incrível de tudo: nada de choro. anos e anos passando os primeiros segundos do ano chorando, e dessa vez, as lágrimas não vieram. só um calorzinho no peito de que dessa vez sim vai dar tudo certo, como foi no último dia do anterior e vem sendo nos primeiros desse. tudo muito certo, ou pelo menos como tudo deveria ser.