27.11.12

sabe

para l.n.
essa nuvem negra
que você sente agora
preenchendo os espaços
entre você e o mundo?
não tenha medo.

uma hora
ela vai embora.
(mas fique preparado:
vai embora, mas só por agora.)


22.11.12

adeus tudo

adeus vida,
adeus mundo.

se me chamasse
raimundo
ou quem sabe maria
tanto faz
quanto tanto faria:

dizem que tudo
vai pelos ares
em menos de
trinta dias.

mas o que importa
se acaba ou fica
esta vida toda torta?

afinal, tanto faz.
os próximos dias,
entre a merda
e a alegria,
serão todos iguais:

morrendo um pouco
a cada dia,
querendo todo dia
um pouco mais.

21.11.12

perdi a poesia num voo desgovernado

se fiquei sem chão,
é porque precisava
- necessitava -
aprender
a voar.

16.10.12

não adianta buscar inspiração de olhos fechados.

11.10.12

alexofedrina (ou algo do tipo)

na pele
cujos restos
preenchem
a lacuna
entre o dedo
e a minha
unha

sinto apenas
a coceira:
que de toda
esta vida
(mas isso
ninguém explica)
tem sido a
verdadeira
loucura.

19.9.12

fluxo interrompido

refluxo do meu tempo

de tanto que
resisto, desisto
apenas existo

poucas são as
vezes que
no caos da
inspiração persisto

já não ando percebendo
qualquer diferença
entre o gerundio
e o tempo
ou a vida
que me passa

16.7.12

ruínas e flores secas

sustentado
por duas vigas
finas e fracas

certo piso
instável
balança e
bambeia

entre o quase
e a conclusão
de que um dia
essa merda
ao chão
desaba

e com o resto
que sobra
do sangue
inflamável
quem sabe
com a queda
incendeia

12.7.12

la niña y la luna

ela
de cara comigo:
cabelos curtos,
charmosa,
os olhos pintados,
os cílios enormes,
e a boca
carmim,
meio que borrada,
meio que usada.

tentei perguntar, pensar,
compreender telepaticamente,
porque me olhava assim,
tão profunda e descarada.

porque ferve o meu sangue
- gritei para o céu -
e entope a minha alma,
estapeia a minha cara?

respondendo aos meus pedidos,
um sussurro conhecido
bem ao pé do meu ouvido:
- ironia do destino
mais absolutamente nada.

18.6.12

reflexo-reflexão

o que é o reflexo, afinal: a imagem que se forma no espelho, a imagem que se forma a partir desta, em minha cabeça, ou seria eu mesma o reflexo? e isso aqui, que escorre pelos meus dedos, seria um reflexo das minhas reflexões, o que enxergo do que eu mesma escrevo, ou simplesmente minhas reflexões cruas?
penso que de forma alguma, neste momento, poderia afirmar qualquer uma dessas hipóteses. é preciso refletir, aqui e em mim mesma, cada vez mais.

12.6.12

o dia do amor na terra da bunda

só poderia ser um dia como todos: uma bunda de dia.

5.6.12

consolação

a chuva desabou do céu, não menos que de repente, para a surpresa de todos. a água escorria para dentro do ônibus por baixo do rodapé da porta, culpa de uma típica preguiça de engenharia pública neste país, e inundava meu pensamento por completo. observava a dança da água no chão quando percebi que, em um daqueles momentos raros de encaixe do universo na própria existência, não é sempre que estou de mau humor.

24.5.12

modo submarino


aqui estou eu, de novo, submersa, perguntando a mim mesma se todo mundo se afoga de vez em quando, talvez de quando em quando. eu não consigo saber, porque eu meio que estou sempre um tanto quanto submersa. talvez eu seja um submarino sem a carcaça vedada, e eu não consigo enxergar com toda essa água nos meus olhos. você consegue ver com água nos olhos?
aqui estou eu, de novo, tentando tirar toda essa água do meu corpo e colocando tudo isso sobre os ombros das palavras. se eu pudesse ser qualquer outra coisa, eu nunca seria uma palavra. e não posso nem ao menos pedir desculpas sem transformar todo o meu próprio universo em palavras.
mas isso não importa, de qualquer forma. eu não consigo ver alguma coisa, ou uma palavra, com toda essa água nos meus olhos. você consegue?

23.4.12

check point #24.2

se por um lado
o coração
ainda toca
como gaita

pelo lado
de dentro
continua a
retumbar
aquele ruído
solitário

daquele
velho
estridente
e melancólico
violino

17.4.12

eu nunca fui poeta no inferno astral

pensar
criar
e imaginar

tão difícil
às vezes
combinar

26.3.12

onde não há aqui

o calendário pendurado na parede anunciava a chegada da semana santa, mas não se via sinal de ressurreição em lugar algum. homens e mulheres crucificados tomavam conta de sua visão turva, já desgastada pelo sol e pelo tempo, e a aridez de mais uma seca havia tomado não só suas terras e esperanças, mas invadira também o seu coração.
- todo ano é a mesma coisa.
- e nós devemos continuar esperando sempre o mesmo?
- não devemos, mas não temos escolha.
- mas a esperança não tem a ver com esperar algo melhor?
- a esperança nunca chegou até aqui.
de olhos fechados na rede velha e empoeirada, amarela como todo o cenário dentro e fora da janela, só podia pensar em uma única palavra: devastação. estava tudo devastado mais uma vez. só a apatia sobrevivia, ano após ano.
batendo seu pé na parede de barro, quente do sol, sentia uma leve brisa da rede balançando de um lado para o outro, enquanto alimentava a única espera - e não esperança - dentro de si: a espera pela morte breve, pelo alívio que só a morte traria. abriu seus olhos e encarou o calendário do ano de 2012 da parede. estaria mesmo em 2012, ou até o tempo havia esquecido daquele lugar?
- a ressurreição só existe em um calendário inventado. nem mesmo jesus lembraria desse pedaço esquecido de terra, e eu, já nem sei mais onde estou.

19.3.12

canção culpada

diz-se certo por não duvidar de si mesmo,
ou vívido, por noites em claro
na solidão da própria loucura.

quanta vividez há, afinal,
em um corpo que só emite,
não transmite ou recebe
qualquer coisa alguma?

se a culpa é toda do outro,
só uma certeza reside
no corpo que sem a alma
afunda em profunda amargura.

o certo é que essa certeza,
somada ao excesso do eu-mesmo,
é a do vazio que ocupa o espaço
da falta da própria culpa.

13.3.12

é preciso se entregar

6.3.12

golfo da madrugada

vivo de encontro
ao alto

desacreditando
gravidade
intuindo
o futuro
precipitando
realidade
e abismando
no meu mundo

1.2.12

sob a onda da tristeza avistei o sol

cheguei ao fim da ladeira, de baixo para cima, e logo vi: ele de cara fechada, ela de costas para mim, um em direção ao outro. minha cabeça estava tão longe de onde eu estava que considero um golpe de sorte ter presenciado aquele encontro. os corpos dos dois se aproximaram, sem qualquer significação, e foi pensando nas angústias da minha alma que fixei os olhos naquela direção e me enchi de alguma emoção qualquer, bonita, confusa e um tanto invejosa: os ombros dos dois se tocaram e os seus rostos se viraram, se encararam. e sorriram, os dois, um para o outro. e pararam de caminhar, se olhando, simplesmente se olhando. ninguém poderia esperar nada daquele momento tão insignificante para o resto do mundo, mas por aquele sorriso, por aqueles olhos, tenho certeza que, ao menos para ele, todos os outros significados não importaram, e naquele momento, enquanto ninguém esperava nada, um mundo de expectativas passaram diante daqueles olhos, daqueles brilhantes e profundos olhos.

31.1.12

de bolso I

no ônibus de volta para o começo de tudo, uma lágrima escorre no vidro embaçado. será minha esta tristeza, ou de qualquer outro, sedento por uma trégua de qualquer parte deste agora?

27.1.12

desentendida

no fundo do peito
um buraco se abre
da culpa de estar
muito mais do que ser

no fundo da alma
queima a ânsia
de um dia, quem sabe
mais do que agora
na eternidade
ficar-padecer

3.1.12

sou um ótimo
pseudônimo
de mim mesma