29.12.08

continuar a []

eu não escrevo crônicas, não escrevo poemas, não falo sobre o natal no natal, não desejo feliz ano novo aos leitores que eu [não] tenho. logo não posso continuar coisas que nunca comecei.

28.12.08

receita

meu passatempo predileto nos últimos tempos é talvez a inveja, ou quem sabe a vergonha. o orgulho que tenho sentido é o do título de fiasco do ano. ou vergonha generalizada por todo o conjunto, que após muito tempo resulta em absolutamente nada. e a inveja é sobre todos os outros que aparentemente encontraram um caminho, seja qual for. eu parei na encruzilhada e resolvi virar macumba. mais fácil que andar para frente é ficar parada. e em meio a tantas pessoas e vidas e tudo que aconteceu ao mundo, eu páro e vejo o enorme círculo sobre o qual andei todo este tempo, e numa mistura de alívio e desespero, percebo que cheguei ao início, novamente. a única coisa a mais é a capacidade de aumentar o fluxo de pensamentos desconexos, o que não acrescenta nada a ninguém.
mas pelo menos eu sei meu diagnóstico, mesmo não sabendo o que fazer com tanto papel azul.

27.12.08

[eu] passo

coloque um pezinho na frente do outro
e é só isso
que vai te levar pelo caminho
nada além disso

foi o que disseram
e o que a cada segundo
está mais e mais difícil
de acreditar

e de manter o equilíbrio
seja pezinho com pezinho
ou na frente do pezinho
ou onde enfiar os pés.

23.12.08

alergia ao pó

dois anos de vida "independente" para escutar, quando tudo foi por água abaixo, e quando está sendo preciso recomeçar: você pode fazer a gentileza de arrumar o seu quarto?
o quarto rosa, cheio de escritos, nas paredes, guarda-roupa, porta... tudo meio encardido, meio feio, meio nostálgico; e duas caixas com colagens de revistas, ambas com as capas inacabadas, cheias de lembranças, cartas, poeira, trecos e saudade. cartas recebidas e não enviadas provando que o tempo passou, algumas pessoas se foram, algumas ficaram, algumas voltaram, algumas nem vieram, e o quarto continua ali, quase que intacto.
está tudo fora do lugar, a conclusão é de que seria mais inteligente começar a arrumação aqui dentro, depois enfrentar o que ficou de concreto de dois anos atrás, e talvez fazer o mesmo que foi feito com esses dois anos: zerar, limpar, recomeçar. na verdade nada está limpo, nem dentro, nem fora, nem antes e nem depois dos dois anos, as coisas continuam ou empoeiradas ou gritando por atenção, e está difícil de dar atenção para qualquer uma das coisas.
limpar, arrumar, jogar fora, livrar-me de todo o mal [e de alguns bens também] para quem sabe recomeçar.
a dificuldade em voltar atrás e assumir que deu errado está muito além do quarto de dois anos empoeirado e velho, um pouco além do fígado de 20 anos com aspecto de 60, e exatamente na porta, parada, com os braços no batente, olhando todo o pó e sujeira e velharias, perguntando: por onde eu começo?

16.12.08

I'm so tired I don't know what to do
I'm so tired my mind is set on you
I wonder should I call you but I know what you'd do

when you just don't know how to say goodbye

é só se esconder e pensar que ninguém gosta de você. simples assim.

7.12.08

mania[ca]s

eu ando com mania de esquecer o cigarro aceso no cinzeiro, e quando dou por mim, ele já se queimou sozinho.
eu ando com mania de chorar toda vez que escuto nine of ten do caetano por lembrar que nine of ten movie stars make me cry também.
mania de necessidade e mania de me sentir mal com pessoas ao meu redor. e uma mania muito chata de me sentir pior quando não tem ninguém.
continuo com a mania de mudar de idéia na velocidade da luz, e agora com mania de sentir dores no peito que surgem e quebram a barreira do som - o qual não existe por aqui.
mania de puxar os cabelos e arranhar as pernas até que não tenha mais lugar para marcar. morder os lábios e travar a mandíbula, comer as unhas e mexer as pernas.
além da mania de procurar motivos para as coisas que eu faço e não consigo parar de fazer. ou parar de sentir ou parar de pensar. mania de sentir culpa e mania de não ter remorso.
mania, mania.
mania de esperar o que não chega, largar o que vai embora, me apegar ao que não se apega e querer ser como todo mundo - mesmo sabendo que o todo mundo não existe.
achar que o mundo é uma grande bola onde vários idiotas foram agrupados e alguns poucos e solitários se sentem assim, numa bola de idiotas diferente desta. contar o tempo, segundo por segundo, esperando por alguma coisa qualquer - sem saber o que é e o porquê de estar vindo.
***
eu penso que vivemos num mundo de maníacos por esta coisa que eu também espero, uma mania obsessiva de esperar alguma coisa, a qual ninguém sabe o que é. maníacos que não dão conta de que nada virá. e não é falta de esperança. é a infeliz consciência que é isso, só e somente só isto no qual nos encontramos é o que tinha por vir, e a espera já acabou, estamos todos aqui já. somos todos uns maníacos, uns maníacos por nós mesmos, com sede do nosso próprio sangue, numa bola de idiotas que esperam, somente esperam. e nem mesmo os mais fortes presenciarão o que virá, porque não há nada no horizonte, absolutamente nada.

5.12.08

mosaico

mas a explosão foi tão forte que os pedaços voaram longe e agora eu não consigo mais juntar, tem milhões de espaços faltando pedaços e isso tudo é uma metáfora sobre o coração que faz doer o coração de verdade;