21.4.11

equinócio XXIII

de hoje
em diante
não mais sentirei
saudades do tempo
que de mim
me retirei

deste instante
em diante
junto tudo que é meu
e o que um dia já foi eu

as mãos em mim marcadas
as roupas mal lavadas
as paredes rabiscadas
e transformo em passado

os rostos,
os gostos,
os outros,
e costuro lado a lado

moldo sobre a pele
sobre as linhas já formadas
cubro todo o corpo usado
e limito o tracejado

no que fui
no que sou
e no pouco que restou
do que ainda não passou

hoje,
em mim,
o corpo encontra,
enfim,
sua forma eterna:

um suspiro,
um fracasso,
um lampejo,
um acaso.

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